Eu sempre achei que precisava ser perfeita. Não sei dizer se isso me era exigido quando criança ou se eu criei esse padrão para mim. O fato é que eu pautava minhas ações no que os outros iam pensar de mim. E isso acabou comigo.
Uma coisa que aprendi na era digital é que você não pode estar disponível o tempo todo. Apesar das facilidades que a comunicação digital trouxe, estar disponível o tempo todo implica em ser imediatista em tudo. Explico.
Há algum tempo atrás, eu tinha a necessidade de responder todo mundo que me chamava. Não importava o motivo, como a pessoa me encontrou nem o que ela precisava. Até número desconhecido eu atendia, sob a necessidade de agradar a todos.
Acontece que, uma das coisas mais pesarosas quando se está em um estado de burnout ou estresse crônico (quando não relacionado a trabalho) é justamente ficar disponível. Quantas vezes você já viu alguém que leva dias para responder uma mensagem no whatsapp. Sabe o que é isso? Regulação emocional.
Ninguém pode estar disponível o tempo todo. Nem faz sentido. É o mesmo que passar a vida toda em estado de alerta. E foi isso o que fui percebendo aos poucos que eu estava fazendo.
No começo, ficava muito mal de não responder alguém no exato momento que eu via a mensagem. Era terrível! Principalmente porque eu não gostava de ver que haviam solicitações em aberto no meu celular. Sabe aquele numerozinho que fica à direita e em cima do ícone do app? Aquele mesmo! Deixa ele ali para ver como eu fico, é horrível. Tem gente que não se incomoda, mas a mim incomoda e muito.
Como vi que isso me incomodava, passei a alterar a configuração do meu celular para não mostrar aquele número. Desta forma, eu não precisava ficar pensando em quantas pessoas eu precisava responder, que haviam me chamado. Alguns tiram a visualização de mensagem, aquele azul no cantinho que mostra quando alguém leu e ainda o horário que a pessoa fez isso. Também já tirei.
Levei algum tempo para desenvolver este auto controle, e hoje estou muito bem com ele. Tenho conversas não lidas a semanas e isso não me incomoda mais.
Entenda: não estou dizendo para fazer ghosting ou deixar de fazer seu trabalho, mas de criar internamente um equilíbrio emocional tal qual você possa deixar de responder uma mensagem na hora e isso não te tire a paz.
Esse auto controle não se aplica somente a aplicativos de mensagem, não. A emails também, a atender ligações indesejadas, a impor limites à vida.
Vejo muitos casos por aí de pessoas que caem em golpes através do telefone. Isso acontece quando se atende um número desconhecido. Já parou para pensar quanto golpe poderia ser evitado apenas por não atender ao telefone quando você não sabe quem está ligando? Usemos a tecnologia ao nosso favor, oras.
O mesmo acontece quando recebemos email de remetente desconhecido ou fora do padrão que estamos acostumados. Costumo deletar todos, sem dó. Ainda jogo no spam para garantir. Eu só abro email de remetente desconhecido quando percebo que ele foi, de alguma forma, endereçado a mim.
Meu nome estar no título do email ou ainda promessas, com certeza vai para a lixeira. É muito comum você fazer um compra online e depois receber uma enxurrada de emails não solicitados. Até mesmo empresas ‘paralelas’ oferecendo algo que você acabou de comprar. É muito desgastante gerir tudo isso.
Lembro-me quando abri meu MEI há alguns anos e comecei a receber um monte de emails indesejados. O que mais me chamou a atenção foi um boleto de uma empresa que chegou com todos os dados da minha empresa, parecendo ser algo obrigatório. Quando investiguei melhor o assunto, vi que se tratava de uma empresa prestadora de serviço, que estava oferecendo serviço para mim e o boleto era para concretizar o negócio. Imagina se eu tivesse pago “para tirar da frente”…
Entrei neste tema porque esse é um dos muitos que já me tiraram a paz. Agora não tanto. Toque de celular, campainha, várias coisas já me tiraram a paz em momentos de extremo estresse. Espero que, compartilhando um pouco por aqui, você leitor possa identificar aquilo que te estressa, pois cada pessoa tem uma forma de funcionar.
O foco que dei neste tema já me ajudou muito a sair de momentos intensos de estresse. Ele está intimamente relacionado à ação de dizer não, de impor limites.
Impor limites é algo que, na minha opinião, deve ser aprendido desde pequeno. Há uma cultura muito contra isso no que se refere a criação de filhos, que eu particularmente não concordo.
Eu fui criada em um ambiente onde criança não tinha voz. Criança não podia falar. O fato de ser criança era tido como sem significado. O adulto falava e a criança tinha que escutar e obedecer cegamente. Não importava qual adulto e também não importava qual ordem. Sempre as crianças precisavam abaixar a cabeça para os adultos. Se você leu os outros dias do meu diário, vai lembrar que eu não sou assim.
Tive muitos conflitos desde criança por causa desse mundo que eu estava inserida. Eu sempre tive quem fizesse por mim em casa, portanto nunca precisei arrumar uma cama até quando fui morar sozinha. Nunca precisei cozinhar nem minimamente cuidar das minhas coisas, porque alguém fazia por mim. Por isso, não criei a identidade de responsável por mim.
Ao mesmo tempo, eu não tinha voz por ser criança. Tudo o que eu falava, pensava ou achava, era descartado. Se eu quisesse falar mais, era tida por rebelde. Por isso sempre acreditei que eu era rebelde.
Isso foi muito reforçado na minha época mais religiosa. Religião não tolera pensadores. Aqueles que questionam qualquer coisa, é tido por rebelde. Eu já era rebelde em casa, por que não ser na religião? Só mais um.
Ouvi muito que eu era difícil de lidar. Ninguém sabia lidar comigo, seja em casa ou debaixo da liderança religiosa. Foi curioso o dia que encontrei algo escrito sobre mim por esses líderes, e eles não tinham nada a falar sobre mim a não ser o que observavam de fora. “Ela continua na mesma”, disseram. Foi interessante perceber quanto tempo eu perdi ouvindo pessoas que nem sabiam o que estavam falando. Isso só reforçou meu lado questionador.
Meu lado questionador é muito bom para quem tem seu próprio negócio, mas nem tanto quando você trabalha para alguém. Já entendeu os problemas que tive? Os gestores mais cabeça aberta, confiaram no meu trabalho e conseguimos avançar incrivelmente. Já os gestores controladores, não conseguiram quase nada de mim.
Hoje encerro este diário sorrindo. Quatro dias seguidos escrevendo estão me fazendo muito bem. Espero que para você, leitor, seja proveitosa a leitura. Ao menos curiosa. Nos vemos amanhã.
Gostaria muito de ouvir de você! O que mais de tocou?
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Espero que tenha gostado da leitura e até o próximo registro!