Acordei hoje pensando no que li ontem sobre este tema. Percebi que muitas das mídias disponíveis abordam o como identificar se você está chegando ao burnout, dicas para amenizar os sintomas, mas nada definitivo sobre enfrentar de fato o problema. A máxima que li é que você deve procurar ajuda profissonal de psicólogo e psiquiatra, e até tomar remédio.
Enquanto eu me desgastava no último emprego, chorava quando a câmera estava desligada, deitava após uma reunião por não ter forças para continuar, eu fazia acompanhamento profissional. Já fazia quase um ano que eu conversava, semanalmente, com um profissional da área da psicologia.
Hoje, depois de quase um ano que tomei a corajosa decisão de sair do emprego sem ter algo concreto (de trabalho) para me apoiar, percebi que todos os sinais estavam gritando e o profissional não viu. Debatíamos isso de diversas formas, e o foco dele era sempre o mesmo: problemas familiares. Era como se o emprego em si não fosse suficiente para me tirar dos trilhos, mas apenas meu histórico familiar. Eu estava procurando todas as formas possíveis e imaginárias para sair do emprego e continuar trabalhando em outra coisa, mas fui encorajada a continuar no trabalho porque “ao menos você tem convívio com pessoas”. Nem preciso dizer que paramos ali mesmo e eu saí do emprego com outro tipo de apoio, afinal quem está comigo deve jogar no mesmo time.
Entenda que não estou menosprezando o peso que uma estrutura familiar tem na vida de uma pessoa. Eu mesma tenho problemas nessa área. Atire a primeira pedra quem não tem. Acontece que, mesmo com “acompanhamento profissional”, não fui bem orientada. Eu deveria ter pedido afastamento pelo INSS, para me recuperar. Continuar a terapia, investigar mais a fundo as causas. No entanto, como sempre gostei de resolver as coisas rapidamente e de forma definitiva, tomei a decisão de sair do emprego e empreeender, sem ter muita base para isso. Acredite: foi uma decisão muito pensada e elaborada, ao mesmo tempo muito corajosa.
Eu não estava totalmente desamparada, não. O apoio que busquei em alternativa não vem ao caso agora, mas é bem substancial e me mantém nos trilhos. Eu sabia que teria que encarar a mim mesma quando me propusesse a empreender. Já havia tentando embarcar no empreendedorismo há anos, fiz alguns cursos e estou fazendo outros, tinha uma grana para três meses guardada. O que eu não havia colocado no papel foi o fato de estar em esgotamento crônico, pois apesar de perceber que eu estava esgotada, não havia percebido que era tão grave. Achei que uma semana descansado, passaria. Ledo engano.
Vale trazer aqui que, após pedir demissão deste último emprego, fiquei três meses sem conseguir trabalhar. Três. Inteiros. Eu só conseguia ficar deitada, dormir e cuidar dos filhos e da casa. Nem preciso dizer que a grana cobriu apenas este período, e foi aí que os problemas começaram de verdade. Ajuda financeira cobra um preço gigantesco que, apenas quem vive, sabe como é. Não é gostoso nem prazeroso depender financeiramente de alguém. Fora que a autocobrança vinha diariamente, e eu me sentia mal por não estar produzindo nada. Isso tudo contribui para o estresse, viu?
Ano passado, ainda trabalhando lá, fiquei internada por uma semana com dengue, logo no começo do ano. Eu já havia chorado muito na virada do ano 23-24, olhando para a minha vida e não acreditando que eu entraria mais um ano daquele jeito. Havia chorado também na virada 22-23. Desta vez, o choro foi bem mais intenso. Já tinha entendido que precisava fazer alguma coisa. Com a dengue, veio a confirmação: se eu não fizesse um movimento rápido, não aguentaria. A doença sempre vem acompanhada de uma utilidade. A minha, era para me parar.
Nunca fui de ficar parada. Sempre gostei de me movimentar bastante e fazer as coisas em movimento. Dizia que não queria nenhum emprego que me prendesse entre quatro paredes, mas algo que eu pudesse ser livre.
Acontece que, desde que saí do último emprego, o que eu mais quero é ficar deitada. É aí que entra este blog. Baseado em todo o histórico que já tive de “acompanhamento profissional” (a história acima foi apenas a última tentativa, e a que durou mais tempo), não consigo ver de verdade um apoio na metodologia científica atual, que de fato vá na origem do problema e o ressignifique, para que eu não o tenha novamente.
Já tomei antidepressivo num passado longínquo, quando um parente da área da saúde sugeriu que eu precisava por estar esgotada. Lembra da crise que comentei no post anterior de fim de faculdade, trabalho excessivo e término de namoro? Pois bem, foi uma crise de estresse, que não deve ser tratada com antidepressivo. Mas foi.
Quando conversei com o psiquiatra naquele momento, cheguei dizendo a ele que eu buscava um tratamento de começo, meio e fim. Que eu não ficaria tomando remédio algum pela vida toda, alterando a química do meu cérebro. Ele concordou que haveria começo, meio e fim, no entanto eu não fui mais nele depois que estava tomando o remédio. Nem preciso dizer que eu mesma fui reduzindo a dosagem até sair completamente, sem sentir diferença alguma em mim.
Eu não fico parada porque estou triste ou desistindo da vida ou ainda me fazendo de vítima, mas porque meu corpo está dizendo para eu ficar parada. No ano passado, as poucas vezes que me propus a fazer atividade física, fiquei doente. Todos os dias tenho dores de cabeça porque fico procurando formas de sair dessa. Falando do último emprego, engordei 10 kilos trabalhando nele.
A grande verdade é que eu nunca me submeti a palavras sem questioná-las, e a vida inteira incomodei por causa disso, tanto na família como na religião. Não é porque alguém fala “é isso” que devo acreditar ou acatar. Além disso, quando você vem para quebrar os padrões vividos por gerações, é natural ser tachado de ovelha negra. Família é uma grande escola, e quando você aprende a verdadeira lição com ela, você conquista o mundo.
Confesso que, no meu estado atual, pouca coisa me prende a atenção, e quase nenhuma eu consigo de fato focar. Até por isso me coloquei para escrever aqui todos os dias. É algo que estou fazendo exclusivamente por mim, pela primeira vez. E, quem sabe, consigo reorganizar minha cabeça e ressignificar minha relação com o trabalho. Essa é a meta.
Pois é, são várias coisas para olhar de uma vez. Eu já fiz isso no passado, e entrei em outra crise. O que acontece é que ninguém consegue resolver tudo de uma vez. Tem que ir aos poucos, fatiando a situação e indo uma por uma. No passado, eu queria mudar tudo de uma vez e isso só agregou ao esgotamento que atingi. Dia após dia fui aceitando que não consigo mudar tudo de uma vez.
Outra coisa que precisei encarar, e se você está lendo esse diário deve estar se identificando com minha história, é que eu só cheguei onde cheguei por causa das decisões que tomei na minha vida. Sim, eu tomei as decisões e eu cheguei até aqui.
Você pode estar se perguntando “mas e quando eu não tenho saída e outra pessoa decide por mim?” Isso é o que acontece quando você recebe ajuda financeira. As decisões saem da sua mão, você querendo ou não. Eu já passei por isso diversas vezes e posso dizer com toda a certeza: não decidir é também uma decisão. Quando você tira seu time de campo, você está decidindo por isso. Então a autoresponsabilidade aqui bate forte.
Pode ser que minhas palavras sejam apenas mais algumas dentre tantas na internet hoje. Também pode ser que você, leitor, se identifique com o que estou escrevendo e queira saber mais. Aos pouquinho, vou alimentando aqui com um pedacinho de história e as técnicas que estou usando para melhorar. Acredite, serão muitas. Eu só paro quando termino. E essa é a decisão de hoje.
Gostaria muito de ouvir de você! O que mais de tocou?
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Espero que tenha gostado da leitura e até o próximo registro!